Carta aberta ao meu coração (de quatro patas)
Ainda não tinhas nascido e eu já te tinha escolhido o nome: "a última a nascer, preta, vai chamar-se Flicka". Quis a sorte ou o destino que, para além do nome, também escolhesse(s) que esta seria a tua casa. Eras a quinta deste disparate que um dia tivéramos de ter cinco cães. Talvez por isso a mais ciumenta. Não podias ver-me aproximar de nenhum outro cão e livre-se de quem tentasse aproximar de ti, tivesse quatro ou duas patas. Mas para mim eras de uma meiguice ímpar. Eras o meu lobo(ito) em pele de cordeiro. A (única) que eu ia buscar, à socapa, durante a noite para dormir comigo, e metia o despertador de madrugada para que o pai não nos descobrisse a manha.
Esta vida madrasta levou-te de mim cedo demais. Cedo. Muito cedo. Obrigada por teres lutado com todas as forças que te restavam. Tenho a certeza de que te agarraste à vida por nós e só por nós.
Levaste um pedaço do meu coração contigo, mas um dia cobro-te, com juros, em beijos.
Até já, meu amor.